Ed Ferreira/Estadão
"Marina Silva é candidata pelo PSB"
A
ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva foi oficializada nesta
quarta-feira como candidata do PSB à Presidência da República. Nos
bastidores, ampliou seu poder sobre a campanha - terá mais controle, por
exemplo, sobre o caixa do comitê. Em público, deu sinais ao mercado a
fim de afastar temores de que uma eventual vitória sua seja uma
aventura, principalmente na área econômica.
Marina
defendeu o tripé econômico de metas de inflação, câmbio flutuante e
responsabilidade fiscal.
Segundo ela, desde 2010 essa é sua posição.
Também se disse favorável à autonomia do Banco Central e lembrou que
Eduardo Campos, morto na semana passada em um acidente aéreo, advogava
que essa autonomia deveria ser formal. Ela disse que o tema - se a
autonomia precisaria ser formal ou não - está em discussão pela equipe
do programa de governo e que sua decisão virá após posicionamento dessa
área. “A autonomia do BC nunca foi um problema entre nós.”
O
acordo interno do PSB foi costurado numa longa reunião realizada
quarta-feira na Fundação João Mangabeira, em Brasília. De um lado, os
integrantes do partido. Do outro, a Rede, grupo de Marina que se alojou
no PSB no fim do ano passado após a Justiça Eleitoral barrar sua
existência como legenda por falta de assinaturas válidas.
No
acerto, a coordenação financeira da campanha foi alterada. O
coordenador da Rede, Bazileu Margarido, vai comandar o caixa ao lado de
Dalvino Franca, do PSB. No lugar de Bazileu, que integrava a chefia
executiva da campanha, assume o ex-deputado federal e porta-voz da Rede,
Walter Feldman. Com isso, Marina coloca pessoas de seu grupo em
áreas-chave da campanha.
Outra exigência foi
sobre os palanques estaduais. Marina aceitou apenas fazer campanha para
os partidos da coligação integrada por PSB, PPS, PHS, PRP e PPL.
Afastou, portanto, sua presença em palanques articulados por Campos com
os tucanos Geraldo Alckmin, candidato em São Paulo, e Beto Richa,
candidato no Paraná. Também incluiu na lista de políticos com quem não
fará campanha o tucano Paulo Bauer, candidato em Santa Catarina, e o
petista Lindbergh Farias, candidato no Rio.
O objetivo de Marina é manter em pé o discurso de “nova política” que adotou desde que iniciou a tentativa de criar a Rede.
Nesses
locais, o PSB poderá fazer campanha conjunta, mas sem a presença de
Marina. Os candidatos a deputado, porém, poderão utilizar sua imagem e
fazer campanha para ela.
O governador de
Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), disse não haver desconforto no
partido com essa opção. “Ela poderá não ir em um ou outro palanque, mas o
partido estará presente.”
Um primeiro ato de
campanha de Marina deverá ocorrer no próximo sábado no Recife, terra de
Campos. O programa eleitoral de rádio e TV do PSB que vai ao ar hoje
vai mostrar cenas do evento de lançamento da candidata realizado na
quarta-feira à noite.
Consistência. O vice de
Marina, o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque, também foi
confirmado no evento em Brasília, realizado na sede nacional do partido,
na Asa Norte. O principal desafio da dupla agora é manter a
consistência da aliança, a boa pontuação nas pesquisas - ela já aparece
em segundo lugar, com cerca de 20% dos votos.
O
discurso voltado ao mercado foi o primeiro passo da estratégia. Mesmo
emocionada ao falar de Campos e lembrar dos dez meses que passou ao seu
lado como candidata a vice, fez questão de assumir o discurso do
antecessor no posto.
Repetiu, por exemplo, o
mantra do ex-governador sobre a política energética do governo Dilma
Rousseff. “É lamentável que o Brasil tenha, desde 2002, a ameaça do
apagão. E digo lamentável, porque temos há 12 anos uma mesma pessoa à
frente da política energética do nosso país, inicialmente como ministra
de Minas e Energia, depois da Casa Civil e, agora, como presidente”,
afirmou. “Essa política energética está custando caro ao povo
brasileiro.”
Marina considerou que o uso de
usinas termelétricas para compensar a baixa dos reservatórios de
hidrelétricas em períodos de seca, adotado atualmente, deve ser acionado
para “eventualidades extremas” e não como componente fixo do grid
energético, como é feito há cerca de um ano.
“Infelizmente, estamos
sujando a matriz energética brasileira. Os arremedos que estão sendo
feitos com as térmicas para os momentos de baixa dos reservatórios têm
de ser reduzidos.”
Apesar da crítica, ela
reconheceu que é difícil substituir neste momento as térmicas - que
produzem uma energia suja, que polui o ar - e que, caso eleita, vai
“recorrer às fontes que já existem para fazer a complementação”
representada pela baixa na produção das hidrelétricas.
Como
ministra do Meio Ambiente do governo Luiz Inácio Lula da Silva, Marina
foi crítica também das hidrelétricas, em razão de seus impactos
ambientais. Ela teve embates com Dilma, também integrante do governo,
principalmente por causa da construção da usina de Belo Monte.
Código
Florestal. A ex-ministra afirmou ainda que o Código Florestal, aprovado
em 2012, precisa ser cumprido, a exemplo da exigência do Cadastro
Ambiental Rural (CAR), porque é uma norma legal. “Infelizmente, isso não
está sendo feito com a urgência e com a velocidade que precisamos”,
disse. Durante a tramitação da proposta do novo Código, o grupo de
Marina criticou a proposta.
Por esses e outros motivos, a principal resistência à candidatura da ex-ministra está no agronegócio.
Atualizado: 20/08/2014 23:35 | Por JOÃO DOMINGOS, DAIENE CARDOSO, ERICH DECAT, NIVALDO SOUZA, RICARDO DELLA COLETTA e ISADORA PERON, estadao.com.br