Arquivo pessoal de Rosa Melo
Rosa Melo e capa do seu livro Os Segredos e a arte de costurar
Realmente, a modista Rosa Melo é das antigas. Não pela idade -- já perto de um século de existência -- mas pelas habilidades manuais. Além da costura, claro, ela é uma ceramista de mão cheia. Aliás, ela já esta reunindo material para o seu próximo livro.
Tamanho talento correria o risco de se perder, se dona Rosa não fosse decidida até o último fio de cabelo. Aliás, foi esse traço de personalidade que a levou para bem longe da Ilha de São Miguel, nos Açores, perto de Portugal. Aos 22 anos, ela embarcou, com o filho Octavio de dois meses no colo, para tentar a vida no Brasil. 'Foi muito difícil me acostumar aqui', conta. 'O imigrante chega com tantos sonhos, mas, muitas vezes, eles se desfazem e a gente tem vontade de voltar para nossa terra.'
Mas ela não voltou, trabalhou duro e ainda teve que dar a volta por cima mais uma vez depois que o marido, após quase 25 anos de casados, decidiu-se pela separação. Mas, como nem sempre os infortúnios vêm para o mal, dona Rosa resolveu se dedicar realmente ao que gostava para dar conta dos três filhos, já grandes: a costura.
Ainda menina, ela aprendeu o ofício na sua terra natal com um alfaiate chamado Renato. Porém, o amor pelas linhas e agulhas ficou para trás até reaparecer novamente muitas décadas depois. 'Abri um ateliê e coloquei o nome Maria na frente do Rosa para ficar mais charmoso', conta. 'Tive várias clientes, naquela época falava-se freguesas, algumas da sociedade, e acabei me aperfeiçoando na alta costura.'
Aos 80 anos, dona Rosa parou de costurar, mas não de trabalhar e de pensar, como gosta de dizer. Tanto que há dois anos, hoje ela está com quase 100, ela aprendeu a mexer no computador para escrever Os segredos e a arte de costurar, hoje na segunda edição. Além do texto, a obra conta com 100 modelos desenhados à mão que ficaram guardados durante mais de 60 anos. 'A idade não é um fator limitador, se você tem força de vontade', afirma com toda propriedade. 'Como diz o comediante Charles Chaplin: persistência é a chave para o sucesso.'
Por Carla Leirner, Corega
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