terça-feira, 21 de outubro de 2014

Aparentemente sóbrio, Lula fala mal da imprensa e cita jornalistas

Por Ricardo Noblat

Lula foi além, ontem à noite, do limite da irresponsabilidade.

Em comício ao lado de Dilma em Itaquera, distrito da Zona Leste da capital paulista, ele falou mal da imprensa – até aí nada demais. É direito dele. E nada tem de original.

Mas a certa altura do seu discurso, ele citou os nomes dos jornalistas Miriam Leitão, do jornal O Globo, e de William Bonner, apresentador do Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão.

- Daqui para frente é a Miriam Leitão falando mal da Dilma na televisão, e a gente falando bem dela (Dilma) na periferia. É o (William) Bonner falando mal dela no “Jornal Nacional”, e a gente falando bem dela em casa. Agora somos nós contra eles – ameaçou Lula.

As cerca de cinco mil pessoas reunidas para escutá-lo foram ao delírio. Mais tarde, no teatro da Universidade Pontifícia de São Paulo, no bairro de Perdizes, Lula voltou a criticar a imprensa. E a citar Míriam Leitão e a Rede Globo.
Dilma Rousseff e Lula, comício em Itaquera, na Zona Leste de São Paul (Foto: Michel Filho / Agência O Globo)
Dilma Rousseff e Lula, comício em Itaquera, na Zona Leste de São Paul (Imagem: Michel Filho / Agência O Globo)

Não dá para afirmar que ele tenha bebido antes de discursar. Aparentava estar sóbrio. Dilma e líderes do PT que testemunharam os discursos de Lula sorriram com o que ele disse. Certamente não pensaram numa coisa – e se pensaram não deram importância.

A saber: Lula expôs dois jornalistas à ira dos seus seguidores fanáticos.

Nesta reta final de campanha, os ânimos estão cada vez mais exaltados de um lado e do outro. Se um ex-presidente da República, popular como Lula, menciona nomes de pessoas e completa dizendo que “agora somos nós contra eles”…

Quer tenha sido essa sua intenção ou não, legitima a eventual ação de um desequilibrado que pode atentar contra a integridade dos jornalistas alvos da insanidade dele.

Por orientação do marketing da campanha de Dilma, ela e Lula combinaram como deveriam se comportar a poucos dias do dia da eleição em segundo turno.

Coube a Lula o papel de bater forte nos adversários – e em quem mais ele quisesse. A Dilma, bancar a vítima dos ataques do PSDB.

Dilma bate como um estivador. Quer apanhar como uma criança indefesa.

Lula está à vontade. Desaforo é com ele. Desacato é com ele. Partir para cima é com ele. Usar palavrões é com ele. Quanto a Dilma… No papel de coitadinha não convence. Longe disso.

O PT se vale de todas as armas, as legítimas e as vetadas pelo senso comum, para não perder o poder que conquistou há 12 anos. Vale, vale tudo. Vale a manipulação de informações, vale a mentira deslavada, vale a pressão sobre os mais vulneráveis.

O desejo do PT de se eternizar no poder começou com o mensalão 1, esquema que pagava propina a deputados federais. E se afirmou com o mensalão 2 – o esquema de desvio de recursos da Petrobras para enriquecer políticos e financiar campanhas.

O mensalão 1 garantiu a reeleição de Lula. O mensalão 2 parece capaz de garantir a reeleição de Dilma.

Até hoje, o PT, Lula e Dilma não admitem que corromperam a política mais do que ela já fora corrompida. Isso significa que se ganharem a eleição do próximo domingo continuarão agindo como de hábito.

Afinal, se os eleitores não mudam com eles por que eles devem mudar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário